segunda-feira, 11 de junho de 2007

Luso 2007 - pelo DN



Iniciativa inédita reuniu 150 investigadores no Reino Unido

No átrio da recepção do Howard Building da Universidade de Cambridge, fala-se português e ouve-se a voz de Zeca Afonso nas colunas da aparelhagem.
O mote é o Luso 2007, uma iniciativa inédita que reuniu este fim-de-semana perto de 150 investigadores e estudantes portugueses em actividade no Reino Unido para trocarem experiências e discutirem oportunidades.
O ambiente é informal, com as T-shirts e os jeans a predominarem na indumentária. São quase todos jovens, com menos de 35 anos, e vivem maioritariamente em Londres, Cambridge e Oxford, onde dedicam muitas horas por dia a aprender coisas bastante esotéricas para a maioria dos mortais.
Não é difícil perceber porque vieram para o Reino Unido.
Estão aqui algumas das melhores universidades europeias e a acessibilidade do Inglês e a proximidade geográfica tornam-no num país de culto para quem quer "estudar lá fora".
Foi assim, por exemplo, com Pedro Torres, 29 anos. "Queria ter uma experiência na Europa e era mais fácil conseguir isso aqui por causa da língua inglesa", afirma.
À semelhança de mais 90 por cento dos investigadores portugueses, também ele está com uma bolsa da Fundação de Ciência e Tecnologia, que assegura 1700 euros por mês. Pedro Torres termina daqui a um ano o doutoramento em Inteligência Artificial, no Imperial College de Londres, e já vai pensando no que fará a seguir. "Estou a desenvolver investigação em teoremas matemáticos que possam ser aplicados na automatização da aprendizagem dos computadores", explica. "Ainda não sei se seguirei carreira como investigador ou no mundo empresarial, mas em qualquer dos casos quero voltar para Portugal", acrescenta. Apesar de fazer o doutoramento numa universidade de Londres, Pedro Torres optou por viver em Cambridge. Perde três horas nos transportes sempre que tem de se deslocar à universidade, três vezes por semana, mas compensa porque a sua companheira está, também ela, ali a fazer investigação. Trata-se de Joana Câmara, 29 anos, que se encontra a um mês de completar o doutoramento em Neurociências. E estando tão perto de culminar um trajecto de quatro anos, ela vive entre a certeza de querer regressar a Lisboa e o dilema de não saber bem para fazer o quê."Parece-me que estão ser feitos progressos e existem institutos de investigação apetecíveis, como a Gulbenkian ou a Fundação Champalimaud. Mas há menos oportunidades e possibilidades de evoluir do que aqui", reconhece. "No final, se calhar, terei de aceitar uma posição não tão interessante como conseguiria no Reino Unido. O estilo de vida inglês é bom para trabalhar, mas vive-se muito melhor em Portugal", conclui Joana.
Também Nuno Morais, 29 anos, está a fazer um pós-doutoramento em Biologia Computacional em Cambridge e diz que dentro de "dois ou três anos" vai avaliar as condições para decidir se regressa a Lisboa. "Estou a fazer investigação na área do cancro e acho que há lá boas oportunidades. É verdade que não existem as mesmas que no Reino Unido, mas parece-me que se esta geração de investigadores regressar as coisas podem melhorar mais depressa", sublinha. Integração difícilOuvindo os testemunhos, percebe- -se que os cientistas portugueses enfrentam quase todos um obstáculo comum: a integração na sociedade inglesa. Na verdade, apesar de estarem há alguns anos no país, não há quem não fale no sol, na praia, na boa comida e na saudade da família e dos amigos.
E, pelo meio, lá surge a confissão de que Inglaterra é um óptimo país para trabalhar e Portugal o sítio ideal para viver. É por isso que, em cada um deles, parece morar ao mesmo tempo a ambição de aproveitar a estadia no país para se valorizarem e o sonho de regressar à pátria num futuro próximo - de preferência pela porta grande.

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