domingo, 10 de junho de 2007

"Investigar no Reino Unido e olhar para Portugal" - RTP

Investigar no Reino Unido e olhar para Portugal

Reuniram-se este fim-de-semana em Cambridge, no Reino Unido
Pela primeira vez, cientistas portugueses no Reino Unido reuniram-se, em Cambridge, para trocar experiências e tomar o pulso à ciência que se faz em Portugal.
Um encontro em que se falou das dificuldades da investigação cientifica, mas também de empreendorismo e da necessidade de um espírito ganhador.
"Não devemos ter vergonha de vencer." Esta foi uma das ideias chave defendidas por Carlos Caldas, professor catedrático de Oncologia médica na Universidade de Cambridge.
O investigador, há 20 anos fora de Portugal, reflectia sobre o seu percurso pessoal e profissional no Luso 2007, o primeiro Encontro de Estudantes e Investigadores Portugueses do Reino Unido. Discursando para uma audiência maioritariamente jovem, Carlos Caldas, 46 anos, falou da necessidade de continuar a ser português no estrangeiro, "sem partilhar do espírito" derrotista que impera em Portugal. O investigador, especialista na área de cancro da mama, foi um dos oradores do encontro, que juntou jovens investigadores, uma especialista em jornalismo cientifico, empresários da área das ciências e o Presidente da Agência de Inovação.
"Procuramos trazer a este encontro as mais diversas experiências e perfis", explica Nuno Morais, um dos organizadores do Luso 2007. Há quatro anos em Inglaterra, este jovem investigador em Bioinformática afirma que "havia uma grande vontade entre os investigadores portugueses de se reunirem e trocarem experiências", e que este encontro pretende "sobretudo pôr as pessoas da comunidade em contacto e dedicar uma parte da atenção ao mercado profissional em Portugal."
Mais de 140 portugueses responderam à chamada. Um número bastante representativo da comunidade portuguesa no Reino Unido, que conta, segundo a organização, com cerca de 500 académicos que trabalham nas mais diversas áreas cientificas, com especial predomínio das ciências básicas e tecnológicas. É a vontade de novos desafios e uma cada vez maior competição que leva muitos jovens cientistas portugueses a estudar no Reino Unido.
"A experiência internacional é fundamental, uma condição necessária para ter sucesso.", afirma Lino Fernandes, presidente da Agência de Inovação, organismo participado pelos Ministérios da Ciência e Tecnologia e da Economia que apoia a criação de empresas de base tecnológica. E o panorama da comunidade é feito de vários retratos.
Recém-chegado a Cambridge, Pedro Brandão mudou-se do Porto com a mulher e a filha bebe "para ganhar uma experiência diferente e abrir horizontes". Para este estudante de Doutoramento em Ciências Computacionais os primeiros tempos tem sido ocupados com a instalação da família. Um retrato bem diferente do de Sara Morais Silva, do Natural Institute of Medical Research. A viver em Londres há 13 anos, Sara afirma ter a sua vida completamente adaptada ao Reino Unido. Desloca-se a Portugal para rever a família, mas perante a hipótese de voltar, a resposta é: "Não sei. Quanto mais tempo fora mais difícil é voltar."
No entanto, se para alguns a ideia de regresso parece remota, para outros ela e bem viva. Helena Vieira (Nita :P) , doutorada em Londres, regressou a Portugal e fundou uma empresa dedicada à area da biomedicina. Mas Helena alerta tambem que no regresso "nao se deve esperar que nos estendam uma passadeira vermelha." Um testemunho que ilustrou uma das questoes com que ciclicamente muitos se confrontam: voltar ou nao a Portugal. De acordo com Nuno Morais, "cerca de metade dos investigadores e estudantes das Universidades do reino Unido quer voltar, se nao a curto prazo, pelo menos a medio prazo." Talvez por isso, neste encontro oradores e participantes pouco falaram das experiencias em Inglaterra.
Os jovens cientistas portugueses falaram sobretudo sobre os desapontamentos com as universidades portuguesas por comparacao com as oportunidades no estrangeiro e sobre a importancia de manterem os contactos entre "a diaspora cientifica portuguesa", numa epoca em que "o Pai-Estado esta a morrer", nas palavras de Carlos Caldas.
Num sábado de sol, perante o cenario imponente de Cambridge, o tempo foi curto para debater a ciencia feita com nomes portugueses - em Portugal ou no Reino Unido.
RTP Multimédia - Ana Luisa Rodrigues, em Cambridge2007-06-10 13:59:37

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