Tínhamos ficado na primeira semana do Gonçalo internado na Mac.
Tenho demorado muito tempo a retomar este post porque esta é a parte que mais me custa.
Até esta altura acreditávamos que agora que o Gonçalo estava fora da minha barriga já nada podia acontecer...
E nesta altura damos conta que a versão do obstetra de um bébé com 31 semanas não é a mesma da de um pediatra...e que o nosso bebé não estava livre de riscos...
E eles aconteceram...
Ao sétimo dia de vida o Gonçalo mudou de comportamento... Deixou de se mexer... Já não choramingava de vez em quando... Estava muito parado... Eu achei estranho mas era mãe à apenas 1 semana não sabia o que isso podia significar... Mesmo assim falei com enfermeiro de serviço que me disse que os bebés as vezes tinham dias assim... Eu mesmo assim fiquei com a pulga atrás da orelha...
No dia seguinte achei que ele estava ainda mais xoxo... Falei com outra enfermeira de serviço que concordou comigo... E disse que ia falar com a médica dele. E assim foi. A médica veio observou-o e achou melhor fazer analises e para nosso infelicidade confirmou- se uma septicémia...
O meu mundo desmoronou...
Eu já chorava a possível morte do meu filho...
E eu ali sozinha... O pai tinha ido trabalhar para longe... Não havia ninguém em quem me apoiar...
Falei com o pai do Gonçalo que apanhou um susto e largou tudo e veio para ao pé de nós.
As lágrimas corriam-me pela cara abaixo e andei por aquele corredor dos cuidados intensivos sem saber o que fazer... O meu pai telefonou-me... Pensei em não responder... O que eu lhe ía dizer? Mas atendi e ele percebeu que algo não estava bem... Falámos pouco até que ele me faz a pergunta que me deixa de rastos : " Mas ele vai melhorar não vai?" Eu desatei a chorar e disse: " Oh pai... Tenho tanto medo... Espero que sim que ele melhore... Mas não temos garantias de nada... Ele é tão pequenino..." E entretanto aparece a minha obstetra que ao ver me a chorar assustou-se... E perguntou-me o que se passava. Eu expliquei-lhe o que sabia e ela disse que iria falar com os médicos... Ela lá foi e eu fiquei à espera... Quando regressou veio mais calma a dizer que sim era uma septicemia mas que nao era muito forte e que acreditava que com os 3 antibióticos que ele estava a fazer e iria recuperar. Que bom que souberam as palavras dela...que bom...
À hora de almoço fui ao centro de saúde de sete rios mostrar a minha cicatriz da cesariana e fui recebida da melhor forma possível. Enquanto esperava a minha vez as lágrimas continuavam a escorrer pela cara...claramente eu não tinha qualquer controlo sobre elas...o medo da perda e as hormonas pôs parto aos pulos eram provavelmente os responsáveis...
Quando a enfermeira de serviço me viu a chorar puxou por mim e levou-me para um gabinete isolado e fez de psicóloga. Foi muito importante a ajuda dela... Eu sentia-me tão impotente e tão sozinha... Sai dali bem mais calma e fui ter com o meu filho. Já estava bem mais positiva e voltei a acreditar que ele ia dar a volta, eu acreditava que sim. Entretanto chegou o pai e juntos chorámos pelo nosso pequeno mas demos força um ao outro para pudermos contagiar o nosso filho com energias positivas para a luta dele. Ficámos lá até bastante tarde... Se eu conseguisse fisicamente tinha ficado aquela noite agarrada à incubadora... Mas não...tive de o deixar sozinho e ir para casa...onde foi tão difícil dormir... No dia seguinte de manhã ligamos para saber e não haviam novidades... Fomos para lá assim que conseguimos e lá já nos disseram que o achavam já um bocadinho melhor. Ficámos o máximo de tempo que conseguimos com ele e fomos notando que aos poucos ele começava aos poucos a mexer-se qualquer coisa :)
Que bom que soube.
Passado 2 dias quando telefonamos de manhãzinha disseram-nos que ele tinha sido transferido para os cuidados intermédios... Que medo!
Pensando com a cabeça era bom sinal, era sinal que ele esta melhor e no bom caminho.
Pensando com o coração só pensava que ele era tão pequenino... Estava a tomar 3 antibióticos... Ainda dependia do oxigénio na incubadora... E na nova unidade já não teria um enfermeiro encarregue dele e de outro bébé mas sim um enfermeiro responsável por 4 bébés...
Lá fomos nós para a nova unidade à procura do nosso filhote... Disseram-nos incubadora 15 e lá fomos nós. E lá estava ele tão pequenino, tão indefeso... Mas via-se que estava melhor...
Nesta unidade os pais acabam por estar mais envolvidos no processo de cuidar do bébé.
Ensinam-nos a trocar a fraldinha a horas certas, a dar o banhinho, a tirar a temperatura e aos poucos
aprendemos a cuidar do nosso filhote :)
Quando o Gonçalo fez as 34 semanas ( sim porque se continua a contar as semanas como se ele ainda estivesse dentro da minha barriga...Sim é estranho eu sei ) experimentamos dar maminha...
Ele tentou tadinho mas ele ainda não tinha muitas forças e depois levou com uma iniciante que também não percebia nada do processo e a coisa não resultou...
Começou a tentar o biberão para estimular a sucção que só se desenvolve nos bebés a partir das 34 semanas. Ele não achou grande piada...ele lá dava ao maxilar mas sem grandes resultados Tadito... Aos poucos lá ia aumentado a quantidade de leitinho da mãe que bebia por uma sonda que tinha desde a boquinha até ao estômago. E ia crescendo e engordando, sinal que o leitinho lhe estava a fazer bem.
Já não me lembro bem a que semanas ele começou a ter alguns problemas de refluxo...
Quando bebia o leitinho o leite por vezes não ficava no estômago, voltava para trás incomodando as vias respiratórias... Os alarmes tocavam todos... O nível de oxigénio começava a baixar... O batimento cardíaco também... E nós apanhávamos grandes sustos... Tornamo-nos ainda mais dependentes daqueles monitores que nos indicavam o que se passava com o nosso filho.
Os enfermeiros ralharam conosco... Tínhamos que aprender o que se passava com ele sem olhar para o monitor porque em casa nao havia monitores... Era muito difícil... As 37 semanas depois do Gonçalo se manter 3 dias sem oxigénio na incubadora foi nos dito que ele seria transferido para a sala dos berços que é o passo anterior à ida para casa... Fui eu que o levei pelos corredores no meu colo para a nova sala e finalmente um berço. Foi emocionante e estranho esse dia mas soube muito bem. Lá estavam também outras mães que já conhecíamos de fases anteriores com os seus bebes. Aprendemos novas rotinas. Agora a troca de fralda numa mesa sem a incubadora a complicar o processo que bom! O banhinho já numa taça. Muito emocionante!
Os problemas de refluxo ainda demoraram a passar. o Gonçalo passou a beber o meu leite com um engrossaste para diminuir a possibilidade do refluxo acontecer... O estimular da amamentacao foi interrompido também por causa do refluxo :( Fomos continuando com o biberão com muitas dificuldades... Raramente o Gonçalo bebia mais do que 10/20ml, o resto tinha de ir por sonda... 9 dias depois de estar nos berços, quando finalmente tinha conseguido beber um biberão inteiro constipou-se... Foi ele e outra menina que estava na sala dos berços... A outra menina foi primeiro levada para a sala do isolamento... O Gonçalo no dia seguinte começou a ficar com falta de ar, tivemos de colocar novamente o oxigénio, deixou de conservar a temperatura... Tiveram que por um aquecedor, deixou de conseguir mamar no biberão... Foi horrível... A enfermeira que estava com ele nesse dia estava super preocupada, e falou com a medica que o levou novamente para a incubadora, desta vez a incubadora 18... Um retrocesso... Voltámos a ter medo... Começou a ficar muito atacado... E desenvolveu uma bronquiolite aguda... Tivemos de iniciar os aerossóis par a o ajudar a soltar a espectoracao... teve mesmo de iniciar ginastica respiratória e só assim conseguiu recuperar... Demorou 15 dias a recuperar... E médicos já nem arriscaram e não transferiram para a sala de berços, mas sim directamente para casa.
Foi para casa dia 9 de Maio, o segundo dia mais feliz das nossas vidas ( o dia mais feliz claro foi o dia em que ele nasceu), é como se ele estivesse a nascer outra vez :)
O Gonçalo tinha 38 semanas e 6 dias de idade corrigida, 8 semanas de vida e 2390g quando foi para casa a 9 de Maio de 2011